quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Edição 26

30 de janeiro de 2014

Amor à vida e amor à Verdade

Uma novela chamada “Amor à Vida” está terminando. Sabemos que as novelas, principalmente aquela que vai ao ar no horário em que toda a família se encontra em casa, nos comunicam uma série de mensagens contrárias aos princípios bíblicos como: mentiras, traição conjugal, fornicação (sexo fora do casamento), adultério, prostituição, violência, etc. Porém, além dessas mazelas, “Amor à vida” enfatizou e transmitiu à família brasileira a ideia de que todos devem enxergar e aceitar, com toda naturalidade, o homossexualismo, o casamento gay e a formação de uma “família” com a adoção de filhos pelo “casal” gay.
         Como sempre acontece nas novelas, tudo é programado e realizado dentro da mesma estratégia do Enganador (um dos nomes bíblicos do diabo): ideias transmitidas, com ou sem palavras, de maneira muito sutil, aumentando de intensidade gradativamente, temperadas com muito bom humor e envolvendo situações bem divertidas. Assim é feito para que a mensagem vá entrando bem devagar e repetitivamente no coração e na mente dos telespectadores a fim de não encontrar resistência e, depois de algum tempo, a mentira seja aceita como verdade e a verdade seja batizada de “preconceito”, “homofobia” ou outros termos considerados politicamente corretos.
         No ano da Copa, podemos dizer que a Rede Globo, através dessa novela, fez mais um belo gol sobre os times das Igrejas Evangélicas e Católicas que professam o mesmo Novo Testamento, e por isso conhecem o Senhor e a verdade, mas que ainda aceitam passivamente todo o lixo televisivo que, diariamente, é despejado em nossos lares. A grande maioria de nós que batemos no peito nos identificando como cristãos, ao mesmo tempo, negligenciamos a ordem de Cristo para combater as mentiras deste mundo, vivendo e proclamando, com amor, as verdades da Palavra de Deus (a Bíblia), ainda que vá de encontro ao que parece ser normal para a sociedade. Porque está determinado que as novelas, as pessoas, o céu, a terra, tudo vai passar, “mas a Minha Palavra”, diz o Senhor, “permanecerá para sempre”.
         A mensagem das novelas é sempre a mesma: “ame e aproveite a vida, de qualquer jeito, custe o que custar, usando as pessoas e aceitando qualquer tipo de amor”. A Bíblia, porém, nos diz que o convite do “Amor à vida” é incompleto e, por isso, perigoso. O verdadeiro amor à vida depende do amor ao Senhor Deus, o Criador da vida, que se revelou em Jesus Cristo, o qual nos alerta na Sua Palavra: “quem amar o mundo, a vida, a seu pai ou a sua mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim.”
         Quem aprende a obedecer a Palavra de Deus, por amor a Cristo, torna-se livre para amar a vida, pela certeza da vida eterna depois desta vida, e aprende a diferenciar a verdade da mentira assim como a mão direita da esquerda.

Alexandre Fonseca de Melo

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Edição 25

17 de dezembro de 2013

A palavra de Deus interage com a cultura dos relacionamentos a fim de moldar e conformá-los aos propósitos do Criador.
         Quem reflete sobre a orientação que a palavra de Deus dá para o casamento não deve imaginar que ela não leve em conta as mudanças culturais pelas quais os relacionamentos conjugais passaram no decurso dos séculos. A palavra e obra de Deus não impõem um modelo de casamento autoritariamente. Mas o Senhor quer que lhe demos ouvidos e aprendamos da palavra registrada na Bíblia.
         O Antigo Testamento retrata como os patriarcas e, mais tarde, o povo de Israel viveram num ambiente em que a poligamia era difundida e culturalmente aceita. É importante observar como a palavra de Deus interage com este contexto: Por um lado ela não oculta nem omite as dores e amarguras dos relacionamentos polígamos[1]. Por outro lado, introduz leis que regulam os relacionamentos e que protegem as esposas (e escravas).[2] Assim o amor de Deus foi inibindo a poligamia e favorecendo a monogamia.[3]
         No debate com os fariseus em Mateus 19 Jesus lembra Gênesis 1 e 2 para reafirmar o propósito do Criador com o casamento. Em sua carta aos Efésios (5.21(!)-33) Paulo ensina que o relacionamento conjugal é moldado pelo amor mútuo entre Cristo e a igreja. Portanto, a opção pela monogamia vitalícia é uma decorrência prática e lógica deste amor. Mesmo assim a igreja do Novo Testamento não excluiu da igreja os polígamos que se convertiam, apenas impediu que eles exercessem funções de liderança nela.[4]
          Vemos que a palavra de Deus não se impõe “na marra”, mas ela se comunica com a realidade humana tal qual ela é. A Sagrada Escritura não ignora os moldes culturais, mas interage com eles a fim de gerar as mudanças que correspondam ao propósito Criador. O meu professor de aconselhamento, Manfred Seitz, resumiu este direcionamento de modo muito conciso em cinco
“diretrizes bíblico-teológicas sobre o casamento:
1)   No casamento Deus une duas pessoas concretas – um homem e uma mulher – num pertencimento mútuo, que exclui rigorosamente pretensões de terceiros.
2)   Por esta união eles estão vinculados enquanto viverem. Portanto: ela não é união temporária, pois, o que seria uma promessa de amor com duração limitada?
3)   Os cônjuges reconhecem estarem destinados um ao outro na totalidade de seu gênero. O casamento não é apenas um estágio inicial da família.
4)   A esta união é prometida a bênção de gerar nova vida. Ao contrário de antigamente – quando ela era óbvia – em nossos dias a tarefa de procriar precisa ser mencionada explicitamente.
5)   Em tudo isto o casal é chamado do pecado e da alienação de Deus para a graça e para a comunhão com o Senhor, o fiador da sua estabilidade, que promete renová-los na intimidade do casamento.
     Esta é a visão cristã: o casamento não é a realização da vida, nem a superação e eliminação do todos os problemas, mas
- é o chamado para a comunhão vitalícia com uma pessoa específica que se doa por completo;
- como estado é um espaço para exercitar a fé, a esperança e o ágape (=amor abnegado) que excede o espaço do (próprio) casamento, o que inclui assumir responsabilidade pelo futuro da terra através do consentimento (em querer ter) filhos e na disposição para (assumir) restrições e renúncia;
- como lugar (é) o lugar no qual o chamado de Deus alcança quem se tronou cônjuge.
     A isto corresponde que… o amor, em sua confiabilidade e fidelidade, almeja “moldar-se institucional-, jurídica- publicamente”. O amor conjugal necessita de uma continuidade temporal que protege os próprios cônjuges e os filhos e que não esteja sempre prestes a colapsar. Em situações críticas os cônjuges podem apegar-se ao 'saldo positivo (de amor) prometido pela palavra de Deus' (O. Bayer)”[5]
         Quem der ouvidos ao que ensina a Escritura e dela aprender, discernirá o direcionamento que Deus nos dá em meio ao conturbado cenário de relacionamentos da nossa sociedade. Não fecharemos os olhos para o fato de que muitos desconhecem ou ignoram o propósito divino. Olharemos para esta realidade sem moralismo, mas também sem ocultar as muitas feridas visíveis e ocultas. Ao mesmo tempo indicaremos com nossa vivência conjugal o caminho do enfrentamento do nosso egoísmo nato e da restauração para o qual o evangelho convida. A obediência que vem da fé[6] ajuda a despoluir e a reconstruir a vida e também os relacionamentos conjugais.
P. Martin Weingaertner, Curitiba




[1]    Abraão/Sara/Hagar – Gn 16-21; Jacó/Lia/Raquel/Bila/Zilpa – Gn 29-30; Sansão – Jz; o levita e a concubina – Jz 19; Elcana/Ana/Penina – 1Sm 1-2; Davi – 1-2 Sm ; Salomão – 1 Rs; etc..

[2]    Lv 19.20s; 20.10ss; Dt 22.13ss; 21.10s.

[3]    “Esposa/marido da juventude” (Pv 5.18; Is 54.6; Ml 2.14s.; Jl 1.8) e “meu marido” (Os 2.16).

[4]    1Tm 3.2; 5.9; Tt 1.6.

[5]    SEITZ, Manfred: Die Ehe im Spiegel der Liturgie de Trauung. Em BAYER, Oswald (org) : EHE, Zeit zur Antwort, p.110s. Neukirchner Verlag / Neukirchen-Vluyn. 1988. ISBN 3-7887-1275-9

[6]    Cf. Rm 1.5; 16.26

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Edição 24

23 de outubro de 2013
Em Deus experimentamos coisas que a razão desconhece.
“a farinha da vasilha não se acabou e o azeite na botija não se secou” 1 Reis 17.16
         Na Bíblia há uma pequena história, mais ou menos, assim: Uma jovem viúva, com um filho ainda pequeno, vive o drama da falta de comida num período de seca e escassez. Quando estão no limite da sobrevivência, aparece um forasteiro, que lhe pede água e comida. Após hesitar um pouco e, mediante a promessa do forasteiro, ela cede ao pedido e oferece o que poderia ser a última refeição da sua família. Por intervenção divina aquela pequena refeição durou vários dias até o fim da seca, conforme a promessa do forasteiro. No entanto, algo mais dramático estava por acontecer... O filho desta jovem viúva adoeceu e veio a morrer. A indignação tomou conta da viúva e do forasteiro. Porém, novamente o Deus a quem o forasteiro servia, agiu e trouxe o menino de volta.
Um conto de fadas?
Esta é a história do profeta Elias e a viúva de Sarepta (1 Reis 17.7-24). É uma daquelas histórias, que talvez muitos, numa leitura superficial, classificariam como mito, conto de fadas ou ficção. Pois há nela dois fatos que escapam da lógica e da razão humana. Uma pequena refeição (um pouco de farinha e azeite) que duram vários dias e a ressurreição de um menino. Porém há muita coisa na minha e na tua vida, que poderiam ser classificadas como mito, conto de fadas ou ficção. Ou seja, coisas que a pobre razão humana desconhece.
Quem já se deixou levar pela fé e pelas batidas do coração, sabe que existem mais coisas na vida do que o cérebro pode entender. Seja a história de Elias e a Viúva de Sarepta, ou qualquer outra história da Bíblia, ou até mesmo histórias da nossa vida, precisamos ouvi-las, com a razão, com a fé e com a emoção. Se você tirar uma destas dimensões, a história ficará incompleta. Por isso, minha intenção e a minha oração não é que você termine de ler este artigo e se sinta confortável diante de Deus, mas que você deseje saber mais, deseje arriscar mais e viver mais pela fé.
Não pretendo esgotar a história de Elias e a viúva, pois ela é a história de uma vida, a vida de todos nós. Nesta história vemos pessoas sendo chamadas por Deus e sendo obedientes a Ele. Vemos o encontro e transformação de pessoas, vemos dificuldades e desafios, milagres e lamento, dor e morte, mas vemos também a ressurreição. Ou seja, é uma história completa. Mas quero olhar um pouco para a perspectiva da viúva.
  A perspectiva da viúva
Certamente, nenhum de nós tem em casa apenas um punhado de farinha e um pouco de azeite. Em termos de comida, todos nós temos mais do que precisamos. Mas era o que aquela viúva tinha. Você consegue se colocar no lugar desta mulher? Ela já não tinha quase nada, aí chega Elias, um cara que tinha menos do que ela.
Confesso que fico constrangido diante desta cena, por dois motivos: primeiro, por que Elias era um homem de Deus, no entanto não tinha absolutamente nada além da fé e do temor a Deus (um grande contraste em relação aos profetas do nosso tempo, que andam de jatinho particular e moram em mansões!). O segundo motivo do meu constrangimento, é pela atitude da viúva que, mesmo tendo tão pouco, ainda compartilhou o que tinha. Isto sempre me deixou pensativo, como alguém pode compartilhar a sua última refeição?
Há uns dois anos eu conversei com um líder de um grupo de cavaleiros em Joinville/SC. Ele disse que, às vezes, seu grupo fazia cavalgadas pela cidade para arrecadar alimentos e roupas para entidades beneficentes. Segundo ele, os bairros mais pobres eram os que participavam mais. Parece-me que quem já passou frio e fome, sabe compartilhar melhor o que tem. Talvez isso explique um pouco o desprendimento desta viúva.
Uma motivação mais poderosa
Mas há uma motivação maior e mais poderosa em tudo isso: a fé. Tanto o profeta como a viúva ousaram colocar sua situação nas mãos de Deus. Fé, não é acreditar em mágica, é confiar na ação do Deus criador, que pela sua Palavra fez tudo o que existe. Se fez o que fez pela Palavra, imagine o que pode fazer com um punhado de farinha e um pouco de azeite!
Qual é a farinha e o azeite que você tem e ainda não colocou nas mãos de Deus? Em que você se agarra, dizendo isso aqui é meu? Você vai morrer e levar junto? Não se preocupe não estou pedindo dinheiro nem, tão pouco, dizendo para dar tudo o que tem. Mas a Bíblia nos ensina que nada nos pertence; e a vida nos ensina que nu viemos e nu partiremos.
A viúva compartilhou o pouco que tinha. Se Deus o multiplicou 30, 50 ou mais vezes, não foi para enriquecer nem a viúva, muito menos o profeta. Foi para eles terem o suficiente para comer. Quando alguém doa, esperando o retorno de Deus, ou está sendo enganado, ou é ganancioso. Dar, esperando algo em troca, não é dar, mas negociar. Colocar a sua farinha e o seu azeite nas mãos de Deus, também não é sair dando o que você tem a qualquer louco que pedir. Pelo contrário é colocar tudo o que tem à disposição do Senhor que lhe dará discernimento e oportunidade de compartilhar com quem necessita, a exemplo da viúva de Sarepta.
Para refletir:
Qual é a farinha e o azeite que você tem e ainda não colocou nas mãos de Deus?
Miss. Oziel Gustavo Marian, Chapadão do Céu (GO)

sábado, 5 de outubro de 2013

Edição 23

01 de outubro de 2013

Por que orar por vocações?


Ao ver as multidões sem rumo, Jesus comentou que “a colheita é grande, mas poucos os trabalhadores”. Por isto ordenou aos discípulos que orem para o Pai enviar trabalhadores para a colheita (Mateus 9.36ss.; confira Marcos 6.34).

Os doze jamais deveriam apropriar-se desta tarefa e pensar que dariam conta do recado! Este é o contexto da ordem que Jesus deu, antes de subir ao céu, a todos que lhe seguiriam: “… ao caminharem (pela vida) façam discípulos de todas as nações…” (Mateus 28.19). A tarefa missionária não seria dos doze, mas envolveria todos os discípulos, pois quem segue a Jesus é chamado a trabalhar pelo seu reino.

Com acerto Lutero, em seu livreto “Da liberdade cristã”, percebeu que, ao salvar-nos, Cristo nos faz participar do seu domínio sobre o mundo. Não precisamos temê-lo, por mais que nos ameace! Além disto, Jesus nos permite chegar à presença de Deus. Quem foi abraçado pelo Pai pode interceder por seus irmãos e ensiná-los o amor que experimenta. Esta é a vocação de todo cristão!

Em todos os tempos Deus separou alguns para dispor-se a trabalhar com dedicação exclusiva na sua obra. Não o faz para dispensar os demais irmãos da sua tarefa, mas para dar-lhes retaguarda! Foi por isto que Deus fez Elias voltar do monte Horebe e o lembrou dos 7000 que “não dobraram seus joelhos a Baal” (1 Reis 19)! Reconvocado para a obra deveria fazer o que Jesus ordenaria a Pedro: “E quando você se converter, fortaleça os seus irmãos(Lucas 22.32).

Eliseu arava a sua lavoura, quando o Senhor o desafiou a largar seu arado, abrir mão do aconchego da sua família e ir onde quer que o enviasse (1Reis 19).

Há 200 anos o agricultor norueguês Hans Nielsen Hauge (1771-1824) também lavrava seu campo, quando Deus o convocou. Em sete anos peregrinou 20.000 km a pé pelo seu país e falou do amor de Jesus a quem encontrasse. Por obedecer ao seu chamado passaria sete anos na prisão, boa parte em cela solitária. Mais tarde ainda seria condenado a mais dois anos de trabalhos forçados.

Como no passado Deus continua a chamar para este trabalho de retaguarda. Se você ama a Jesus e lhe é grato pela sua salvação, então olhe para as multidões que são “como ovelhas sem pastor”, peça que o Senhor encha seu coração de paixão pelos perdidos e pergunte a ele: "Como queres que eu te sirva?"

Você não ouve resposta?

Então aquiete-se e fique atento! A resposta de Deus não tarda, a não ser que você não admite que ele possa tirar você do seu 'arado'.

P. Martin Weingaertner


Faculdade de Teologia Evangélica de Curitiba

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Edição 22

17 de setembro de 2013
Temam a Deus e honrem o rei
O quinto artigo da Confissão de Barmen
“Temam a Deus e honrem o rei” - 1 Pedro 2.17
A Escritura nos diz que, segundo a providência divina, o estado tem a tarefa de zelar pelo direito e pela paz, ameaçando e recorrendo ao uso da força, no mundo ainda não remido, no qual também a igreja se encontra, na medida da compreensão e da capacidade humanas. A igreja reconhece com gratidão e respeito a Deus pelo bem desta sua incumbência. Ela aponta para o Reino de Deus, para o mandamento de Deus e a sua justiça e, com isto, para a responsabilidade de governantes e governados; ela confia e obedece movida pela palavra pela qual Deus sustenta todas as coisas.
Condenamos a falsa doutrina de que, além desta incumbência específica, o Estado possa pretender ser a ordem única e total da vida humana, assumindo também a incumbência da igreja. Condenamos a falsa doutrina de que a igreja, indo além de sua incumbência específica, possa assumir características, tarefas e dignidade do estado, tornando-se ela própria órgão do estado.
Para melhor entender o enunciado acima, precisamos deixar claro, o que é o ESTADO. O Estado, como tal, é necessário para a boa ordem na sociedade. Os autores desta Declaração Teológica não questionam a sua existência. Deixam claro, no entanto, que o Estado não é uma grandeza em si mesmo. Ele é composto de Governo (autoridades constituídas) e a Nação (os governados). Sempre que o Governo de um Estado se arroga o direito de ser dono da Nação, ele ultrapassa a sua incumbência específica, que é promover a paz social e a segurança da Nação (zelar pelo direito e pela paz). Portanto, o Governo sempre está em função da Nação e nunca o contrário.
De outra parte, a Igreja como instituição e como povo de Deus possui uma dupla incumbência:
1. Colaborar com as autoridades legitimamente constituídas na promoção do bem estar e da paz social. Para tanto ela pode livremente assumir, ao lado de sua missão religiosa, tarefas sociais, filantrópicas e educacionais em parceria (ou não) com o governo. A Igreja, a rigor, deve formar o caráter justo e pacífico dos cidadãos que o país necessita, pois toda pessoa cristã é portadora de uma dupla cidadania: é cidadã de seu país e cidadã do Reino de Deus.
2. A Igreja possui ainda uma segunda função: sua tarefa profética. Além da obediência às autoridades legitimamente constituídas, ela precisa de discernimento para “dar a César o que é de César; a Deus o que é de Deus”. Às palavras bíblicas: “temam a Deus e honrem ao rei” (1 Pedro 2.17), devem ser vistas na totalidade deste versículo que afirma: “Tratem a todos com o devido respeito: amem os irmãos, temam a Deus e honrem ao rei”. A política tem contornos maiores que “Deus e César”. À Nação cabe o que é devido à Nação: o direito de ser governada com justiça e paz e não abusada pelo poder governamental.
O Estado não é divino nem é dono da Nação. Quando um Governo se arroga ser dono da Nação, ultrapassando seus limites, cabe à Igreja cumprir a sua função profética de alertar e denunciar estes desmandos. Ela cumprirá sua função profética, aliando-se às forças vivas da sociedade civil. Afinal, o sopro do Espírito do Senhor não está restrito aos corredores da religião organizada. Ele sopra onde quer e desperta pessoas onde quer para cumprir a sua missão. Onde a Igreja negligencia sua função profética ela torna-se refém do Estado, e deixa de ser Igreja cristã.
Para refletir:
Tirando lições para o exercício da cidadania no Brasil.
  1. Onde está a voz profética da Igreja diante de uma estrutura de poder que privilegia três segmentos da sociedade: a) a alta cúpula do poder executivo, judiciário e legislativo; b) a classe dos ricos empresários da indústria, do comércio, da agricultura e dos serviços; c) as grandes corporações religiosas e filantrópicas. Estes usufruem vantagens e isenções, mas quem paga a conta é o povo trabalhador extorquido em seus direitos. A Constituição Federal de 1988 afirma que todos são iguais perante a lei. Então, por que a lei não é igual para todos?
  2. De que maneira a Igreja pode formar os cidadãos que a Nação necessita?
P. Arzemiro Hoffmann, Licenciatura Plena em Filosofia e Mestrado em Teologia.
Professor de Missiologia na FATEV em Curitiba.
Contato: P. Joel Schlemper

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Edição 21

03 de setembro de 2013

Não há hierarquia na igreja de Cristo

O quarto artigo da Confissão de Barmen

 
“Jesus chamou seus discípulos e lhes disse: Vocês sabem que os governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Ao contrário, quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo”. Mateus 20.25-26

Os diversos cargos na igreja não estabelecem o domínio de um sobre os outros, mas servem ao exercício do serviço ordenado a toda a comunidade.

Condenamos a falsa doutrina de que na igreja à margem deste serviço, pudessem existir ou serem impostos líderes investidos do direito de dominá-la.

O artigo 4º da Confissão de Barmen aponta para um dos ensinos principais do Novo Testamento e que se constituiu como um dos pilares da reforma luterana, a saber, o sacerdócio geral de todos os crentes. Voltando à Bíblia, Lutero questionou a divisão entre clero e leigos. Na Idade Média desenvolveu-se a idéia de que os sacerdotes, dotados de dignidade e direitos especiais, se distinguem dos demais cristãos. Assim, aos poucos, eles adquiriram poder sobre a vida dos demais cristãos estabelecendo uma hierarquia. Os 'leigos' tornaram-se sempre mais dependentes da ministração dos sacerdotes para receberem a graça de Deus e, em última análise, a própria salvação. Tanto a pregação do Evangelho, quanto a administração dos sacramentos e o governo da igreja passaram a ser direito exclusivo da classe sacerdotal.

Em contraposição com esta compreensão hierárquica milenar que dominava a igreja de Cristo, Lutero entendeu que os ministros não são uma classe privilegiada em relação aos demais membros do Corpo de Cristo. Todo cristão é um sacerdote (1 Pedro 2.9 e Apocalipse 1.6), o que lhe confere a mesma dignidade.

O resgate dessa verdade bíblica por parte do reformador produziu uma “verdadeira revolução” na igreja de Cristo. Os ofícios sacerdotais de anunciar a palavra e de interceder diante de Deus passaram a ser de direito comum de todos os cristãos, e não a prerrogativa especial de uma casta seleta dos ordenados. O rito da ordenação não promove ninguém a um patamar superior de cristianismo. Ele não habilita a exercer poder sobre o povo de Deus, mas comissiona um irmão mediante a oração, a leitura das Escrituras e a imposição de mãos, para servir à congregação e não a si mesmo. Por isso, quem é eleito para uma função de direção seja numa comunidade local, seja a nível regional ou nacional da igreja, precisa entender que foi chamado para servir. Este princípio do sacerdócio de todos os crentes libertou os seguidores de Jesus do temor e da dependência do clero.

Com isso, tanto os ministros ordenados como os presbíteros eleitos estão desautorizados a exercerem suas funções como dominadores ou chefes do rebanho de Deus (1 Pedro 5.1-3). Exercer seu ministério deste modo representa um retorno ao sacerdotalismo medieval contra o qual Lutero e os demais reformadores se insurgiram. Pois o cabeça da igreja é Cristo, ninguém mais. Quem, portanto, se apropria da liderança, contradiz o ensino das Escrituras e ofusca o senhorio de Cristo! Pois as diferentes tarefas na igreja devem ser partilhadas por todos os membros do Corpo de Cristo, resgatados que foram das trevas para a luz, para exercerem os dons e aptidões que o Senhor lhes concedeu.

Para refletir:

  1. Você considera que o alerta do artigo 4º da Declaração de Barmen (“entre vós não será assim”) ainda é atual?
  2. De que forma você pode servir a Deus e ao próximo a partir da compreensão do sacerdócio geral de todos os crentes?
  3. Com que espírito aqueles que estão em função de liderança no Corpo de Cristo deveriam desempenhar suas funções?

P. Sigolf Greuel – Florianópolis, SC



Contato: P. Joel Schlemper


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Edição 20

21 de agosto de 2013

Jesus Cristo tem a última palavra na Igreja

O terceiro artigo da Confissão de Barmen
 
“Seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as juntas, cresce e edifica-se a si mesmo em amor.” Ef 4.15-16

A igreja cristã é uma comunidade de irmãos na qual Jesus Cristo está presente e atua na palavra e no sacramento pelo Espírito Santo. Em meio ao mundo do pecado esta igreja de pecadores agraciados, deve testemunhar com sua fé e obediência, com sua mensagem e organização, que ela é unicamente propriedade de Jesus Cristo e que vive e deseja viver na espera da sua volta unicamente do seu consolo e da sua orientação.

Condenamos a falsa doutrina de que a igreja possa adequar a forma da sua mensagem e da sua organização aos caprichos ou às variações das convicções ideológicas e políticas ora dominantes.

A terceira tese da Confissão de Barmen trata da concepção de Igreja. Para Karl Barth e os demais autores, a Igreja é a “comunidade de irmãos na qual Jesus Cristo está presente e atua”. Esta declaração foi fundamental, tendo em vista o contexto de então. Naquela época, os “cristãos nazistas” realizavam o esforço de adequarem a mensagem da Igreja à ideologia nacional-socialista e a organização da mesma ao princípio do líder (Führer). Neste sentido, a Declaração Teológica de Barmen condena estes procedimentos e reafirma o testemunho bíblico-reformatório sobre o que vem a ser Igreja e como ela se apresenta ao mundo.

O que significa, contudo, ser “uma comunidade de irmãos na qual Jesus Cristo está presente e atua”? Quando procuramos compreender esta afirmação, somos lembrados da palavra de Jesus: um só é Mestre de vocês, e todos vocês são irmãos (Mateus 23.8). Ou seja, em primeiro lugar, somente Jesus Cristo tem a última palavra na Igreja. Ele é o Mestre! Por mais importante que sejam os credos, os dogmas e as confissões, os documentos normativos, enfim, toda a tradição teológica e eclesiástica que a Igreja acumulou ao longo de sua existência, nada disto tem, nem de longe, o mesmo peso que a palavra de Jesus Cristo, testemunhada nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento. Em segundo lugar, ela é a comunidade de pessoas – homens e mulheres – que estão na mesma condição diante de Deus, pecadores agraciados, que recebem o convite para se relacionarem entre si como iguais, isto é, como irmãos, ainda que diferentes em dons (1Coríntios 12) e talentos (Mateus 25). Em função disso, a Igreja é o lugar privilegiado para se exercitar a palavra de Jesus: não será assim entre vocês (Mateus 20.26). O cultivo de hierarquia e de linha de comando (um manda e outro obedece sem questionar) pode pertencer à sociedade, mas não à comunidade dos irmãos.

Além disto, a Declaração de Barmen nos lembra que vivemos “em meio ao mundo do pecado”. Consequentemente, sofremos pressões que vem de dentro e de fora da Igreja, no sentido de diluir a sua mensagem e a sua organização “aos caprichos e variações das convicções ideológicas” de nossos dias. Algumas dessas pressões nós identificamos com facilidade, tais como “todos os caminhos levam a Deus”; outras, nem tanto, como por exemplo, o uso do Evangelho para interesses financeiros e de auto-ajuda. Por isso, os autores da confissão de Barmen nos encorajam a caminharmos como Igreja que pertence unicamente a Jesus Cristo “e que vive e deseja viver na espera da sua volta unicamente do seu consolo e da sua orientação”.

Vale a pena refletir:

  1. O que hoje ameaça nossa igreja, no sentido de impedir que ela seja exclusivamente propriedade de Cristo?
  2. Como podemos evitar que as pressões culturais, ideológicas ou políticas moldem a igreja e destruam sua identidade?
  3. Como se manifesta concretamente que somos, de fato, uma comunidade de irmãos e irmãs?
 
P. Dr. Mário Francisco Tessmann – Curitiba/PR


Contato: P. Joel Schlemper